terça-feira, 30 de novembro de 2010

DESISTÊNCIA

Foi quando eu percebi... quando percebi que em você não havia amor nenhum, quando notei que eu significava "coisas de mais" na sua vida. E bem... Amores não resistem a "coisas de mais". Então, eu tava falando que... Ah!... foi quando eu entendi e... sim, eu sei... eu levei semanas... anos pra entender... que você simplesmente não servia... foi aí que eu pensei: “eu vou embora”. E nessa hora foram mais samanas, anos, eu sei... mas você precisa entender que leva tempo. Então, de repente levantei... e fui embora tão rápido! ir embora é fácil, sabe? Difícil é levantar. Olha... você pode até achar bonito... e até pensar que eu sei das coisas... No fundo você tem razão. É um pouco bonito sim... e eu sei um pouco de coisas sim. Levei décadas pra entendê-las e depois... mais vários anos pra levantar... Eu sei que em semanas eu já estava longe... mas eu tinha deixado um vasinho com plantas pra trás... e elas certamente morreriam. Pq as plantas morrem perto de alguém que morre de medo. Foram séculos pra voltar.
Nunca fui amado no dia do meu aniversário. E nunca “não fui traído”. Sequer respeitado. Mas também... o que é “ser amado”, “ser traído”, o que é a porra do “dia do aniversário”? Meras convenções... uma tolice. Tolice como o amor que sinto. Essa é a palavra. Tolo. Sou tolo. Olha que estranho... “Tolo”, “tolo”. Fala! Olha que estranho de falar: “tolo tolo tolo tolo tolo tolo”. Pois é... dentro de mim... dentro de mim existe um jardim... é um jardim... um enorme jardim de instrumentos musicais. Desabrocham violinos... pode-se colher encordamentos em árvores, pandeiros ficam dependurados em paredões de pedra, como mariscos, flautas passeiam feito cobras, algumas venenosas... outras não. E enquanto tudo floresce... Vai soando uma canção que toma tudo. Há uma foz onde três quedas d’água cantam. É de chorar de tão bonito. O problema... é que as vezes uma enxurrada de esgoto denso invade cada centimetro do meu pomar de canções. O jardim começa a cheirar a podre, entende?Dá ânsia. Eu desde o início sabia o que ia acontecer. Algumas pessoas acham que eu sou exagerado. Que eu choro “a toa”. Vocês não sabem o que estou sentindo. Vocês não sabem a distância da minha percepção. Nem da minha dor. Não sentem nem o cheiro do jardim. “volto ao jardim com a certeza que devo chorar pois bem sei que não queres voltar para mim. Queixo-me as rosas... mas que bobagem as rosas não falam...” Maldito Cartola!
Olha só. Eu não sou nenhum Rimbaud... mas juro que o meu coração está numa longa temporada no inferno. Há veneno. Há guerra. Um guerra constante. Aqui dentro, meu bem, tá todo mundo se matando. Eu tô dançando há três semanas sem parar numa balada bagaceira(ator dança uma música muito ruim).

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre decepções.

Depois de muito procurar uma causa que um médico resolveu me dizer: “Meu amigo... ou você tem poderes telecinéticos... ou você simplesmente nasceu para ser traído. Não está em nenhum padrão de procura. Não tem haver com as pessoas com quem você se relaciona. E sim com o acaso. É assim. Não há razões patológicas.”. Vou tentar explicar pra vocês. Há um mês, novamente, eu tive uma premonição. Nela alguém que amei de corpo, junto com um amor amigo. Deitados na mesma cama. Sobre os mesmos lençóis e soando as mesmas juras de amor. Ao acordar eu soube do fogo. E perguntei do fogo. E fui maltratado. Na cama com alguém que eu havia amado estava meu melhor amigo. Eis um monólogo de traição. Trair é a melhor coisa que algumas pessoas sabem fazer. Então elas traem. Seus amores, seus amigos... traem a si mesmas o tempo todo. Por isso vivem solidão. Uma solidão maior que a minha. Porque a minha solidão eu vivo ser ter mentido. Sem omitir nada. Sei dos lençõis e isso me dói pouco. Sinto dor é de conversar com alguém e saber que ele mente sem ficar com o rosto vermelho. Fico triste quando penso que não mereço nem esse respeito. Me sinto uma puta então... dessas caídas numa rua suja, dessas maltratadas, arrasadas, desrespeitadas como se não fossem gente. Eu me sinto assim. Tenho vontade de perguntar: Por que eu não mereço respeito? E eu mesmo responderia. Porque você se realciona com algumas pessoas que não são respeitaveis.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Terceiros fragmentos ou Para Ciliane Vendruscolo ganhar o Oscar

Cena ¬

Eu queria ser capaz de explicar em que pé as coisas estão. As vezes, com muito esforço, eu consigo fazer sair um sol no meio das tempestades. Mas isso me causa muita dor aqui ó... nesses ossinhos sobre os olhos... E sabe como são as coisas, não é? Tá tudo interligado. Chuva e sol nos olhos, avalanches no coração... Toneladas de neve esmagando e congelando transeuntes. Esfaquiando corpos... de tão frio. Casas sendo levadas, bolas de neve... Famílias arrasadas, arrastadas... Uma solidão sem fim.. As veias envenenadas, os olhos, dois lagos...

Não há péixes, já desaguei todos. Os coqueiros que viviam às margens foram fazer verão em outro oásis. Porque no meu deserto... no meu deserto... apenas chove. Chove e chove sem parar. E a chuva é sulfurosa. No meu deserto... quem bebe a água vomita sangue e quando chora corroi a pele da própria cara. No meu deserto há vendavais e o vento grita (atriz imita o som agudo do vento auuuuuuuu)), há tempestades, ondas gigantes, aquamotos, terremotos. No meu deserto é ímpossível dormir e é impossível sonhar. Há afogados por todos os lados... Há corpos podres boiando a minha volta. Há corpos mortos boiando na pota dos meus dedos...(atordoada) Aliás, eu deveria ser pianista não é? Olha que dedos compridos que eu tenho...

Cena ¬

Se isso fosse uma novela ela certamente não se chamaria "A Pessoa mais triste do mundo". Se chamaria "A Pessoa mais solitária do mundo" entende? Se chamaria "A Pessoa mais solitária do mundo"..."A Pessoa mais solitária do mundo"! Do mundo todo...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Segundos Fragmentos - Inverno - Para Ciliane Vendruscolo

Se isso fosse uma novela ela se Chamaria "A Pessoa Mais triste do mundo" e a trilha sonora de abertura seria Águas de Março. Porque o Tom e a voz da Elis sabiam que era pau, era pedra... era o fim do caminho. No episódio de abertura o personagem principal é visto sendo baleado no meio de Copacabana. Um lapso de tempo e lá está ele, já recuperado, voltando pra casa. Seu nome? Culatra , porque foi por onde o tiro saiu. Troço violento. No passar da temporada descubriremos que nosso herói já escapou de várias estripulias mal fadadas. Que embora muitos acreditem que sua falta de cabelos seja culpa do stress a verdade é que havia tido a cabeça quase que bebida de canudinho por índios Tupinambás, anos antes. Bom, depois de case perder a cabeça e de sobreviver á um tiro, Culatra, vai, episódios seguintes, entregar seu coração há algum antagonista estrangeiro. Um homem bomba israelita, um kamikaze oriental, ou um refinado europeu mestre em requintes de crueldade... Já ouviu falar em crueldade diplomática? Bem... é é nessa hora da novela, no útimo capítulo, que os românticos de plantão irão levantar de suas poltronas, enquanto protagonista e antagonista se casam, aliviados com a promessa de felizes pra sempre. o que nossos espectadores não sabem é, que se essa novela tivesse mais quinze minutos... veriamos,o coração do nosso herói, ao chegar em casa, sendo explodido, atirado ou fatiado em partes mais finas que uma folha de papel... veremos Culatra agonizando... Então as fatias serão atiradas numa jaula de famintos. Sim. De famintos. Que irão comer-se uns aos outros, feito tupinambám sobre efeito de álcool, despedaçando-se numa luta desesperada pelo resto de carne podre e fétida que é o coração do nosso protagonista. Os que conseguirem uma das cobiçadas finas fatias perceberão, em suas línguas, o gosto do que comem... E o que comem? Merda. O que comem é merda.

Se isso fosse uma novela ela certamente se Chamaria "A Pessoa Mais triste do mundo". E tocaria, no fim, alguma canção triste do Milton Nascimento. E no último episódio, o nosso herói, Culatra, seria baleado em Copacabana e dessa vez não se safaria. No surto gerado pelo tiro pessoas correm para todos os lados. Culatra vai sendo esquecido ali. Vemos que culatra não está em Copacabana. Está apenas em frente a uma cenografia de Copacabana erguida em plena praça Santos Andrade em Curitiba. O sol não é sol e sim refletores e é inverno. Culatra ainda está ali e perde sangue. Silencia de subito.Morre ali mesmo, vítima de uma hipotermia que o executou muito antes da hemorragia fazer efeito.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Primeiros fragmentos - Inverno

Inverno

Cena !

Atriz entra em cena vestida numa capa de chuva. Pendura numa “arara” ao fundo do palco...


Atriz – Cada vez que acordo, um temporal. Se não temporal... a eminência de um. Quando eu acordo... pode até estar sol... Quando eu acordo o tempo fecha, o vendaval se arquiteta. “Pum”. É assim: Pancada. Acredite. E não é pro conta do meu humor. Meu humor é ótimo. O meu humor é... é... meu humor é... eu sou agradabilíssima. Não tem haver com humor. Tem haver comigo... E com o meu sono. Quando eu durmo sai sol. Pode ser... por exemplo, uma e meia da madrugada que basta eu fechar os olhos e lá está, sobre a minha cabeça, um bruta sol rasgando a escuridão da noite. Mas eu nem me importo com isso porque... porque eu tenho blecaute nas minhas pálpebras.(pausa) Vocês não imaginam. Há veneno no meu sangue. Fui proibida pelos médicos... e juízes de colocar os pés para cima. Os juízes acreditem... e olha que eu levei essa ação até o supremo tribunal federal... Eles, os juízes, consideraram que ao colocar os pés para cima meu sangue poderia parar na cabeça culminando no envenenamento da mesma, podendo levar a óbito... Sim... No meu caso levantar os pés significa executar um crime contra a vida! “Está na constituição”, disseram-me. (pausa) Quando acordo é sol. Se abro os olhos... chuva. Se abro apenas um único olho o tempo fecha. Se abro os dois é chuva certa. Algumas pessoas que dormiram comigo, ao perceberem isso saíram correndo... e nunca mais voltaram (ri). Engraçado né? A dor é fermento. Consegue perceber?


Cena @

Atriz – Vocês já ouviram falar em Tsunamis? A minha vida emocional começou assim. Ele disse “adeus” e foi um afogamento sem fim. Aí já viu né? Muito “glub glub” até que resolvi mostrar meu talento para a natação.

Cena _

Atriz – (Toca o telefone. Ela atende)Fala! Que eu não apenas te escuto como também falo com você! Aliça Anderson, melhor que o CVV, Vinte e quatro horas pronta pra te atender. Boa noite em que eu posso ajudar? An? Aham... Não gata.. primeiro: se você pular da janela... como eu posso dizer... você vai virar um presunto horroroso e estourado. E segundo: A melhor coisa a fazer é superar o bofe meu amor e se jogar... A superação é a maior dor que eles podem sentir (é interrompida)... o que? Não dá? Mas por quê? Ãn? Ãn? O quê? Aham... (tempo) Que bom que está melhor. Precisando... (desliga o telefone e chora desesperadamente).

Sai de cena. Entra vestida numa capa de chuva. Pendura no fundo do palco


Cena #

Atriz – Na verdade é muito difícil explicar o que aconteceu. São meses, anos, uma vida... e tudo, de repente, vai com a chuva ladeira abaixo até encontrar um bueiro qualquer... Quem já havia olhado nos meus olhos podia perceber a diferença, entende? É como se ele houvesse me deixado e eu, inconformada, tivesse ido a beira da loucura, como se meu olhar se esvaziasse e se perdesse, esvaziasse e se perdesse, esvaziasse e se perdesse. Mas não. Fui eu quem foi embora dizendo que não havia amor que resistisse àquele temporal. Eu fui embora porque ficar era morte certa. E ir embora era morte quase certa. E eu fui embora. Pra que pelo menos um de nós se salvasse. E ele se salvou. Se agarrou no primeiro pedaço de madeira que viu, um pedaço de madeira podre, cheio de bichos, cheio dos fungos das mentiras e dos desdéns. Ele se segurou num monte de coisas podres e se salvou... E eu... eu é que fiquei a deriva, em alto mar. Esse mar imenso que são os meus olhos. Eu queria que chovesse... Eu queria que chovesse uma chuva dessas que lava tudo. Mas só chove essa chuva de todo dia. Eu sou do tempo... Eu sou do tempo em que a chuva... a chuva lavava... Hoje em dia a chuva suja. A chuva de hoje é ácida e quando cai... meu corpo acha que são lágrimas e quando vejo eu estou em alto mar de novo... E de novo o afogamento. Isso aqui meu amor... São Tsunamis... As ondas que cobrem minha alma dizimariam países inteiros. Depois do terremoto meu coração de Haiti entrou em guerra. E não é uma guerra política ou religiosa. É uma guerra de Famintos... É uma guerra que quase se justifica porque é uma guerra contra a fome. Só que nesse caso... A desnutrição é certa e a morte uma constante. Meu coração sofre de inanição, entende? Meu coração sofre de inanição... Meu coração sofre de inanição profunda! Então acordo, abro os olhos e Pum! Temporal. Talvez as tsunamis sejam culpa dessas chuvas que insistem em continuar. Eu preciso de lenços de papel mas... só encontro colírios.
Cena $

Atriz – Hoje me ligaram de manhã: “olá. Já ta acordada?”. “To sim.”, menti. “Que ótimo! Porque hoje é meu dia de folga. Então pensei que poderíamos nos encontrar em uma hora na piscina do clube”. “Ok! Te encontro em uma hora lá!”. Desliguei. O telefone... e meu cérebro. 20 minutos depois acordo em pânico: “No clube! Em uma hora? Mas... eu nem sei com quem eu falei!”. E se fosse algum ex-namorado psicopata? Estanhei s olhos como se tivesse tomada uma dose de adrenalina. Mal tive tempo de piscar e “trimmmmmmmmmmmm”... “Alô”. “Oi... Eu liguei pra desmarcar a ida ao clube. É que acabou de começar um temporal”. Imediatamente pensei. “Claro. Eu abri os olhos!” e em seguida disse: “ok. Mas... quem é que ta falando?”. “É o Rubem”. “Rubem? Desculpe mas não conheço nenhum rub... tu tu tu tu tu”, desligou. E... eu... eu não conheço mesmo esse tal de Rubem... Coitado... Pelo jeito mal nos cruzamos e eu já fodi o dia de folga dele. Azarado esse Rubem... Rubem... se você estiver aí ouça bem... Amigo... arranja um pezinho de coelho... pra ver se melhora... mas não esqueça que o pezinho só da sorte se for arrancado de um coelho já morto... e de morte natural hein Rubem. Já morte e de morte natural. Entendeu Rubem?

Cena %

Atriz – Eu continuava a mesma chata de sempre.Talvez um pouco mais metódica do que antes. Com minhas verdades de botequim e os meus sonhos jogados apodrecendo na sala de estar. Mais silenciosa do que nunca. Vontade? Nenhuma. Eu até resolvi correr. Primeiro 2, depois 10 quilômetros. Só que eu corria do nada pra lugar nenhum e de lugar nenhum pro nada. Até que você aparece “abre a cortina” e enche de cor na sala. Maldito “abre as cortinas e olha relva lá fora”, maldito “abre as janelas e deixa molhar e bater sol nos sonhos... que eles brotam”. E sim eles brotam. Sonho de viagem com amanhecer, banho de sol. Maldito “abre janelas”. Mas e agora? Hein? E agora que a janelinha do meu coração ta escancarada? E agora? Hein? E agora que tem um puta rombo nas minhas costelas? E agora? Que o vento ta encanado e virando um vendaval e que ninguém ta percebendo? Não ouviu? agora? Que o vento ta encanado e virando um vendaval e que ninguém ta percebendo? Hein? Hein “abre a cortina? Me responde... Porque é que você foi tocar com delicadeza no tecido leve das cortinas... Os teus dedos, tuas digitais, ainda estão lá... afundados. É como se o cetim e os meus sentidos estivessem (indica que estão interligados)... E aí você escancara os armários e as janelas e eu acordo três horas mais cedo. E eu acordo cada vez mais cedo. Acordo cada vez mais cedo até a hora em que acordarei tão cedo que nem terá dado tempo de dormir e, então, não dormirei mais. Não durmo pela luz que invade o quarto, pelo rombo no peito, pelo vendaval, pelos dedos no cetim. Não durmo você “abre alas que eu quero passar”. Não durmo nem que tape o rombo, nem que feche as janelas. Não durmo nem com tapa olhos e ouvidos.

Cena )

Atriz – É impossível me amar. Sabiam? É impossível me amar. AS pessoas sempre se encantam... “Você é muito talentosa! Parabéns...” E se apaixonam... Mergulham nos meus fluxos profundos e depois se satisfazem. Eu sou uma espécie de puta emocional. Só que sem cobrar. Eu dôo todo meu amor não dado. Eu dôo a minha paciência, o meu chão, os meus amigos. Eu dôo os meus amigos e depois fico sem... fico sem eles pra sempre. Eu dôo a minha saúde, as minhas fraquezas. Eu dôo a minha força e fico mais forte pra salvar você meu amor... e o amor... satisfeito... apunhala o coração por trás. Não há redenção e nem coração que fique sadio. É impossível me amar... é sério. No fim dessa história alguém vai aparecer e você vai achar que eu terei um final feliz. Mas não... eu não terei. É meio difícil aceitar isso... mas são os fatos. (Criando um clima tenso) Ai. Eu.. ai.. eu nem... eu nem gosto de falar disso na verdade... (pausa dupla). Eu não queria falar disso. Porta. Eu sou uma porta, eu sou uma porta! Desculpem... Olha o clima que eu.. Desculpem eu não queria transformar isso nisso. Eu... ai... desculpa. Estraguei a peça... Nossa desculpa... é que eu precisava... ai... vou ficar quieta... desculpem...


Cena &

Atriz – Talvez seja culpa das tsunamis. Sim... a falta de sono. Eu já havia comentado sobre as tsunamis? Sim? Ótimo. As tsunamis são uma constante por aqui. AS vezes é possível ouvir os sons delas. Perguntam-me: “São gazes?” ou “é um bebê?”. Eu digo: “não, não... É só o monte de água que tem no meu coração num dia revoltoso”. Normalmente as pessoas caem na gargalhada. E eu não entendo por que.



Cena *

Atriz – Uma vez... Uma vez... Teve um cara... Vou te contar... Aquele lá brigou por mim. Foi assim... Uns três meses na labuta. Beijinho, carinho, presentinho e prontidão... Bem... Um dia eu cedi. Deixei ele ir até a minha casa, tomamos um vinho... sabe como é quando tem um vinhozinho... Dormimos mas... ao amanhecer ele começou a perceber... observou-me delicadamente e... quando se deu conta... Olhou pela janela, viu uma tempestade... olhou nos meus olhos bem fundo... viu uma tempestade e sorriu. Disse: “feche os olhos e conte até cinqüenta que tenho um surpresa pra você”. Fechei, contei e quando abri ele não estava mais ali. Antes de poder sentir a perda ouvi um grito e corri para a janela. Ele estava lá, no meio da rua, estatelado no chão após escorregar no chão liso da tempestade que havia recomeçado. Ele levantou os olhos e me viu na janela. Me olhou com pânico. Foi então que resolvi brincar. Fechei um único olho e a chuva parou. Sorri. Seu olhar de pânico cresceu por 4 segundos exatos e então ele voltou a correr. Abri o olho, a chuva recomeçou, ele botou as mãos na cabeça e se ajoelhou no chão... eu desci e lhe entreguei tudo que poderia entregar. Tudo que eu tinha de mais concreto naquele momento. A minha capa de chuva.

Sai de cena. Entra vestida numa capa de chuva. Pendura no fundo do palco


Cena <

Atriz – Rubem... Se por acaso você estiver aqui... se você estiver aqui hoje... e tiver ouvindo essas histórias... eu queria que você soubesse que... eu queria que você soubesse que você pode me ligar se você quiser... mesmo que seja por engano... Se você quiser eu... eu iria adorar...

Cena +

Atriz – (Toca outra vez o telefone. Ela atende.) Fala! Que eu não apenas te escuto como também falo com você! Aliça Anderson, melhor que o CVV, Vinte e quatro horas pronta pra te atender. Boa noite em que eu posso ajudar? O que? (atordoada) Entendi. (Vai até a mesa de som e tira o som. A cena inteira, inclusive a atriz, fica sem som). Atriz Termina de falar com a pessoa que ligou. Pede ao operador de som que aumente o volume. Desliga o telefone e chora desesperadamente).




Cena (

Atriz – O amor não dado é veneno. O amor não dado escorre devagar... como mel. Só que azedo... e venenoso. O amor não dado é cicuta, é um filme “B”, não... “D”. É um filme... V,U,T... É um filme “T”, do tipo violento, sanguinolento,nojento, cheio de excremento. É isso! É um coração cheio de excremento. E o coração vai bombeando o excremento e ele, o excremento, entope e contamina vasos. O amor não dado entope e contamina os vasos. O amor não dado envenena alma e enche o coração de excremento... (para os espectadores) Você. Já pesou seu coração? Já? Pra ver se não tem merda dentro? E se de repente tem? Se de repente já está tudo envenenado? E se então o sangue subir? Pronto! Tá feita a cagada.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Depois de um ano novo... FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

Para ler ouvindo "Outros Sonhos" do Chico Buarque

Para que não tem a música aí vai o link do youtube http://www.youtube.com/watch?v=LIs9anDRns0

OBS: NÃO ASSISTA O VÍDEO! Dá medo! Apenas ouça-o enquanto lê. Grato


Logo de manhã acordar bem cedo e aproveitar o Sol. E como se toda a ironia da vida já não fizesse um barulhão... Foi pisarmos na areia da praia que uma sinfonia de gotículas, nem tão finas para serem garoa, nem tão voluptuosas (voluptuoso soa tão voluptuoso, não?), nem tão voluptuosas para serem consideradas chuva, invadiu a nossa vontade de "país tropical banhado pelo mar".´
Após o descontentamento inicial resolvemos caminhar entre a àgua que dançava no chão e a que vinha cambaleando do céu. E foi só aceitarmos que a tarde seria assim, úmida, que o céu se abriu e com ele um alçapão se abriu na areia e e nós caímos no castelod e um príncipe. E o príncipe, um lindo príncipe de baixa estatura, nos recebeu sorrindo. Ele nos levou ao jardim e as flores, todas, nos deram bom dia. No dia seguinte, certamente, um de nós se casaria com alguma delas... Talvez a meis cheirosa, ou a mais sedosa, ou com mais espinhos. Não sei. Mas um de nós certamente se casaria.
E no casamento todos cantávamos e bebiamos em comemoração àquele jovem amor. A questão é que quando a flor jogou seu Buquê, descobrimos tratar-se de um buquê de chuva e, no fim, se atirava feito um Kamikaze, nas minhas mãos de menino, um temporal desses típicos dos dias de carnaval usados pro Deus para refrescar a multidão. Eu segurei o buquê, ou o temporal, como preferir, até não poder mais. E quando quase não aguentava mais alguém cantou "Amor I Love You", eu lembrei de você e desaguei. Pasmem. eu dormia e sonhava, e o meu sonho foi invadido por uma música da Marisa Monte e a música, como se controlasse essa minha televisão particular, os meu sonhos, mudou de canal sintonizando no canal em que você sorria.
E enquanto eu olhava sua vontade de peixinho de nadar sem parar do profundo à superfície, do profundo à superfície, do profundo à superfície, que pensei em te dizer que jamais desaguaria a tempestade da flor em um aquário. Bem... Abri as mãos e virei um rio, desaguei como um rio. Que é pra você ser livre. Que é Pra você saber que nessa minha correnteza transparente e pedregosa, o meu coração, você, peixinho, pode nadar até muito longe.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amores Perfeitos

Tudo começou num terreno grande. Era fim de outono e o sol denso e vermelho se deitou na terra e o fim de tarde sorriu... e as alfaces sorriram e o vira-lata e o pastor belga... todos sorriram. Sorriu também a menina de cabelos cacheados em seus precipitados cinco anos, entendendo, enquanto caia o vermelho, que ainda se apaixonaria. Sob a terra, como se abraçadas pelo sol, três sementes confusas brotaram sem imaginar que, na verdade, o frio chegaria em breve. E o frio chegou e o sol se tornou um fiozinho morno exclusivo dos dias de céu aberto. No grande terreno lutavam pela vida os delicados pezinhos verdes com sua meia dúzia de folhas novas. Gritavam pela vida como um menininho que solta pipa pela primeira vez.
Como quem ama agüentaram o fim do inverno e o ressoar da primavera.
Depois de se acostumarem com o frio intenso todo aquele calor eminente acabou foi por deixar as plantinhas completamente mareadas... Os vasos dilatados, a seiva correndo rápida e toda aquela sensação de enjôo. No terceiro dia foi inevitável. Uma das plantinhas não se contem e vomita um "troço" roxo. As vizinhas enojadas vomitam logo em seguida, amarelo e vermelho, respectivamente. Mais 24 horas e acordavam para o sol três amores perfeitos. A menina corre. Arranca-os, coloca-os em um vaso. Sentia seu coração disparar. As mãos geladas. Procurava por alguém em alguma rua feita de fim de tarde... Deixou o vaso num canto e correu por uma porção de vielas vazias... Quando e deu conta... já havia perdido o vaso e as flores... Chorou sentada no asfalto. As flores, o amor pra quem as entregaria, esquecidos juntos em algum lugar. Seus amores perfeitos se perderam. Foram levados por alguém sem coração e plantados numa floreira quase sem terra numa praça fedida. E eles haviam nascido num desses terrenos... num... num desses terrenos como o meu coração... como o meu coração... um terreno grande com um sol vermelho se deitando sobre ele e as alfaces gargalhando junto com uma menininha de cabelos encaracolados que descobre, sabe-se lá porque, naquele momento, que ainda vai amar... E vai... É... E vai...