Cena ¬
Eu queria ser capaz de explicar em que pé as coisas estão. As vezes, com muito esforço, eu consigo fazer sair um sol no meio das tempestades. Mas isso me causa muita dor aqui ó... nesses ossinhos sobre os olhos... E sabe como são as coisas, não é? Tá tudo interligado. Chuva e sol nos olhos, avalanches no coração... Toneladas de neve esmagando e congelando transeuntes. Esfaquiando corpos... de tão frio. Casas sendo levadas, bolas de neve... Famílias arrasadas, arrastadas... Uma solidão sem fim.. As veias envenenadas, os olhos, dois lagos...
Não há péixes, já desaguei todos. Os coqueiros que viviam às margens foram fazer verão em outro oásis. Porque no meu deserto... no meu deserto... apenas chove. Chove e chove sem parar. E a chuva é sulfurosa. No meu deserto... quem bebe a água vomita sangue e quando chora corroi a pele da própria cara. No meu deserto há vendavais e o vento grita (atriz imita o som agudo do vento auuuuuuuu)), há tempestades, ondas gigantes, aquamotos, terremotos. No meu deserto é ímpossível dormir e é impossível sonhar. Há afogados por todos os lados... Há corpos podres boiando a minha volta. Há corpos mortos boiando na pota dos meus dedos...(atordoada) Aliás, eu deveria ser pianista não é? Olha que dedos compridos que eu tenho...
Cena ¬
Se isso fosse uma novela ela certamente não se chamaria "A Pessoa mais triste do mundo". Se chamaria "A Pessoa mais solitária do mundo" entende? Se chamaria "A Pessoa mais solitária do mundo"..."A Pessoa mais solitária do mundo"! Do mundo todo...
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